quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Gil Scott-Heron – “I’m New Here”

Este disco nem meia hora de duração tem (28 minutos, para ser exacto) e, no entanto, proporciona uma experiência sonora de intensidade ímpar. Muito mais introspectivo e autobiográfico do que revolucionário (o estilo que celebrizou este músico / poeta), “I’m New Here” – o seu primeiro álbum desde 1994 – oferece-nos uma visita guiada personalizada pela mente de Gil Scott-Heron, que procura combater os muitos demónios que nela coabitam com a energia que ainda lhe resta, após sucessivos anos de prisão, excessos e vícios.

A exposição destes demónios proporciona um fio condutor ao álbum que, de resto, é bastante diversificado. Alguns exemplos incluem a utilização da guitarra clássica no tema que dá nome ao álbum, “I’m New Here” (original de Bill Callahan), do piano em “I’ll take care of you” (um tema que, não fosse a voz mais desgastada, embora sempre hipnotizante, não destoaria numa das suas colaborações com Brian Jackson nos anos 70) e a estética hip-hop que predomina no poderosíssimo “Me and the Devil”, um tema de Robert Johnson, gigante do delta blues que, segundo rezam as crónicas, vendeu a alma ao diabo.

A produção de Richard Russel, responsável da XL Recordings (que editou o álbum), é exímia, recorrendo a ornamentos, muitos deles de base electrónica, na medida certa (é extremamente eficaz a forma como o espírito do blues e do gospel de “New York is killing me” casa na perfeição com o efeito dos overdubs de sintetizador), preocupando-se, no entanto, em conceder de forma constante o (merecido) protagonismo à voz e, sobretudo, às palavras de Gil Scott-Heron.

O título do disco, “I’m New Here”, adequa-se na perfeição ao regresso ao activo de Gil Scott-Heron que, mais do que um regresso, é uma estreia neste “novo mundo”, muito diferente daquele que ele deixou em 1994. Os jogadores e as próprias regras de jogo mudaram na indústria. Mas, visto isto, é de louvar a facilidade com que ele chegou, viu e venceu, produzindo, na minha opinião, um dos melhores discos dos últimos anos. É um disco profundo, ao qual se tem que dar a devida atenção às letras (o spoken word sobrepõe-se, não raras vezes, à música), negro, andando o diabo literalmente à solta, e simplesmente arrepiante.

(5/5)

2 comentários:

Satch disse...

Caros, um desafio. Pouco se conhece e se consegue encontrar de Paulo Mendonça, mas acreditem que o seu album Different Phases (o segundo de um total de 3 já editados) é do melhor que existe no mundo do funk...
Como grandes embaixadores de música de qualidade, deixo-vos a dificil tarefa de conseguir fazer um post de qualidade sobre Paulo Mendonça.
Um bem haja!

Sgt. Pepper disse...

Irei investigar... ;)