Já me sinto recuperado da ressaca de 3 dias intensos, com muita música, cerveja e poeira à mistura, por isso vou partir para o rescaldo daquilo que foi, a meu ver, um óptimo festival de música. As falhas a nível logístico (nomeadamente as dificuldades de acesso, a falta de iluminação do parque de estacionamento e as más condições de acampamento) e a poeira foram mais que compensadas por outros factores mais simpáticos, entre eles a hora e meia inesquecível proporcionada por Prince (já lá vamos…), a mão cheia de óptimas actuações a que tive a oportunidade de assistir (Mayer Hawthorne, The Temper Trap, Grizzly Bear, Vampire Weekend, Sharon Jones & The Dap Kings...) e o ambiente especial que se viveu no recinto (uma mescla entre os ambientes dos festivais de Paredes de Coura e Sudoeste, com menos galegos que o primeiro e menos – embora não muito menos – pitas histéricas que o segundo), ajudado pela envolvente verde, as horas bem passadas na praia durante a tarde e o facto de, apesar das enchentes (especialmente no 3º dia, no qual, de acordo com a organização, estiverem presentes 32 mil pessoas), a circulação e a satisfação de necessidades fisiológicas, do hamburguer ao xixi, ter sido razoavelmente fácil, contrastando com o caos, bem como o carácter impessoal, do Optimus Alive!. Sim, porque, com um intervalo de tempo tão curto entre os dois festivais, as comparações tornam-se inevitáveis. Outra diferença gritante entre estes dois eventos megalómanos reside nos chamados palcos “secundários”. O palco “secundário” do SBSR – reforço o "entre aspas" já que de "secundário" este palco teve pouco –, ao ar livre e perfeitamente enquadrado com a natureza envolvente, venceu, com uma goleada à Benfica, a tenda claustrofóbica e cinzentona – que, por sinal, não ficaria nada mal na Feira Gastronómica de Famalicão – do Oeiras Alive!.
Mas vamos por partes:
Na Sexta-feira, ainda chegámos a tempo de assistir à recta final da suada actuação de Jamie Lidell, que, momentos antes, nos serviu de banda sonora para a curta estadia na fila de entrada para o recinto. Mas a seguir, Mayer Hawthorne e a sua banda de suporte, The County, brindaram-nos com uma excelente actuação, conseguindo entusiasmar (o que àquela hora e ainda com tanto sol era tarefa difícil) a já significativa massa humana que se agrupou à frente do palco principal, com doses elevadas de soul, confiança, estilo (que maravilha de laço) e boa disposição. Foi o primeiro grande concerto do festival. Os Beach House não nos prenderam a atenção no palco secundário (o que é estranho, tendo em conta o quanto gosto dos seus discos), por isso fomos jantar, voltando ao mesmo palco a horas de assistir ao concerto dos The Temper Trap, uma banda que compensa com doses extraordinárias de empenho aquilo que lhes falta à música em termos de identidade. Mas, já de noite e com a forte colaboração do público, que vibrou com temas como Fader e Sweet Disposition (grande final), deram um concerto sentido e vibrante. De seguida, chegaram os Grizzly Bear que, num registo muito menos eufórico do que os Temper Trap, hipnotizaram os (muitos) fãs que fizeram questão de assistir ao concerto. Trata-se de uma grande banda ao vivo, com uma dinâmica interessantíssima em palco, e que eu gostaria de ver numa sala fechada. Voltando para o palco principal, assistimos por fim a uns Pet Shop Boys... previsíveis. O que não é necessariamente mau.
No Sábado, o Tiago Bettencourt ainda partilhou connosco, durante alguns minutos, a sua dor, mas a curiosidade de ver o concerto de Holly Miranda, uma das meninas queridas de David Sitek (TV On The Radio) falou mais alto, por isso dirigimo-nos ao palco secundário para assistir à actuação competente de uma artista extremamente tímida (e pequenina), que, não fosse a sua vozeirona enorme, passaria despercebida em palco. Seguiu-se Julian Casablancas, que desiludiu tudo e todos. Disse à Blitz que estava mal disposto e que ia vomitando em palco. Isso explica muita coisa, mas não explica o recurso desnecessário (face à solidez do seu álbum a solo, “Phrazes for the Young”) às músicas dos The Strokes. Soa a batota. Os Hot Chip puseram a malta a dançar enquanto, lamentavelmente, perdi aquilo que, segundo me constou, estava a ser um excelente concerto no palco secundário: Patrick Watson. Os Vampire Weekend não são, na minha opinião, banda para grandes palcos, dado lhes faltar músculo à música. Mas, ainda assim, animaram de sobre maneira as hostes, fazendo com que o pó se levantasse com os saltos do público em temas como A-Punk, Cousins e Mansard Roof, dando um grande concerto. Infelizmente, o cansaço já não me permitiu ter capacidade para "encaixar" o concerto dos Letfield.
Por fim, o nosso Domingo festivaleiro começou com uma sólida actuação dos Wild Beasts, que ter-me-ia enchido mais as medidas noutro horário. Seguiram-se os The National, uma banda cujo estilo, na minha opinião, não encaixa em grande palcos, frente a grandes plateias. Depois de ter assistido a um concerto, para mim memorável, da banda na Aula Magna, torna-se difícil satisfazer-me com menos. Pareceram-me amorfos e meio perdidos num palco daquela dimensão. E o ênfase dados aos sopros, numa tentativa frustrada de “encher” o som intimista da banda, matou-me. Levando-me a tomar uma decisão que se revelou estratégica: sair a tempo de ver grande parte do magnífico concerto de Sharon Jones & The Dap Kings, no palco secundário. Sharon Jones é uma força da natureza: É a Mavis Staples, o James Brown e a Aretha Franklin, numa só pessoa, de 54 anos, que dança e canta como se não houvesse amanhã, com o suporte dos fantásticos Dap Kings, que já acompanharam, entre outros, a Amy Winehouse em estúdio. A reacção do público foi de euforia, levando a que a banda nos brindasse com um inesperado encore. Foi um momento mágico que abriu caminho para aquilo que foi o grande momento do festival.
O concerto de Prince teve o mérito de me fazer regressar ao passado. Não por eu ser um profundo conhecedor da sua obra e de ter crescido ao som das suas músicas. Mas porque me fez sentir aquilo que senti na pré-adolescencia quando fui aos meus primeiros concertos, todos eles de estádio. Aquela magia que demorava dias a passar. Numa altura em que ainda não se previa o desaparecimento do conceito de ícone pop (e não me falem em Beyoncés e Lady Gagas). E Prince é dos poucos que ainda se ainda se encontram no activo. O concerto dele no SBSR roçou a perfeição. Prince, com o seu ar intemporal, cantou, dançou e tocou guitarra com a classe e o talento que o caracterizam. Manteve um equilíbrio perfeito entre temas mais e menos conhecidos, entre momentos mais e menos mexidos. Do soul ao funk, do rock ao pop, do disco ao fado (aqui com a ajuda da Ana Moura, naturalmente). Isto, mantendo os níveis de interesse no máximo ao longo de uma hora e meia. Fiquei rendido com este concerto memorável.
Graças à minha memória selectiva, na minha cabeça, o festival SBSR 2010 terminou aqui. E não cometi a infelicidade de assistir a metade do ridículo e verdadeiramente merdoso concerto dos Empire of the Sun.
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